Feb 28, 2012

De olhos abertos

Um dia é uma mancha roxa, no dia seguinte um arranhão nas costas e vc começa pensar que seu filho está com problemas. Apesar do Eduardo dizer que estava tudo bem o tempo todo, eu comecei ficar desconfiada.

Verifiquei o tamanho dos sapatos, se ele está pisando torto, mandei andar na linha e fazer o 4. E quando ele pediu para mudar de escola e eu disse que ia conversar com a professora... ele finalmente me contou o que estava acontecendo desde que voltaram das férias de natal: um dos melhores amigos não está sendo muito gentil com ele.

Eu conheço bem o menino e tenho certeza que ele não faz por mal, nao quer machucar e não tem noção do quanto esta ferindo o Edu: mas está ferindo muito. Não só fisicamente, mas psicologicamente!!!

São brincadeiras idiotas tipo colocar o pé quando ele vai passar, empurrar ou bater o peito nele (o menino é enorme, tanto na altura quanto na largura), pegar o Edu pelo pescoço e ficar dando "crocks" na cabeça, torcer o braço para trás e outras idiotices desse tipo.

Com medo de perder o amigo, o meu filho simplesmente não me contava nada e tb nao tinha coragem de pedir ajuda na escola.

Mas pera aí Mari, que raio de escola é essa que ninguem percebe??? 

Pois é ai que mora o fato interessante: o menino sabe o momento certo de fazer as tais brincadeiras e ninguem nunca via. E quando via, pedia para eles pararem com aquele tipo de brincadeira mas o Edu não pedia ajuda, nem assim.

Depois de mais de um mês "apanhando", foram quase duas semanas de conversas com o Eduardo porque ele não queria que eu fizesse nada: queria resolver sozinho mas sem magoar o amigo. Quando eu percebi que ele realmente não ia conseguir sozinho, eu fui falar com a professora. Falei da forma mais calma possivel e com muito tato para tentar não criar nenhum problema para o menino.

Ela falou com os dois juntos, foi super gentil, segundo o Eduardo e... não resolveu nada: o Edu apanhou a semana passada inteira!!!! E na sexta feira a mãe do menino ainda queria que o Edu fosse na casa dela!!!

Na segunda eu perdi minha paciência e dei uma última chance ao Eduardo: se ele não falasse com a professora, eu falaria. E também falaria com a mãe do menino, com o menino, com a diretora, com o secretario da educação, com o primeiro ministro e até com a rainha se fosse preciso.

Ele ficou assustadíssimo e contou tudo o que estava acontecendo para a professora. E contou também que o "amigo" pega os lapis dele e o deixa com um toquinho de lapis, que o "amigo" fica tirando sarro de um outro menino que tem um problema de pele... enfim, o santo não é tão santo quanto eu e a mãe dele achávamos ( talvez ela ainda ache!!!).

A professora realmente tomou uma providência e conversou com o menino com mais seriedade e na terça feira ele nem foi na escola. Na quarta feira a professora conversou com todos os meninos da classe e disse que varios pais foram na escola reclamar das brincadeiras violentas e dos ferimentos nos filhos.

E agora estou esperando os proximos acontecimentos...

PS: Não sei como estão as escolas particulares no Brasil, mas eu sofri muito (mas muito mesmo) bullying na escola e infelizmente naquela época pouco se sabia a respeito e nada se fazia. Aqui existe muita preocupação em relação a isso porque este inimigo é silencioso e muitas vezes quando os adultos descobrem o problema já tomou proporções gigantescas.

Mais do que simplesmente defender os meus filhos, eu quero que eles aprendam a se defender sozinhos. É claro que nós pais temos que dar suporte, temos que estar acompanhando de perto, mas funciona melhor quando a solução parte das crianças.

O Eduardo está muito mais tranquilo e eu sinto que ele está orgulhoso de ter conseguido resolver um problema que para ele era enorme, sem precisar da mamãe ir fazer escândalo na diretoria. Infelizmente este tipo de problema vai acontecer de novo, eu sei, mas tenho certeza que meu filho vai saber melhor como lidar com ele.

Por enquanto, parece que tudo está resolvido, mas pelo sim pelo não, continuo de olhos abertos.

5 comments:

  1. Nossa Mari que coisa triste isso, eu qdo criança passei poucas e boas na escola, tambem tinha medo de tomar atitude, minha sorte era que tinha varios amigos bem maiores que eu e tomaram partido e me defenderam, senão...mas ainda bem que pelo seu relato tanto a escola, como os professores não fazem vista grossa, aqui no Japão isso é um problema sério, e o agravante é que ninguém vê, faz ou sabe de nada, a coisa é tão feia que freqüentemente se vê em jornais relatos de suicídio de crianças, sim crianças de 8, 10 anos, se matando e só descobrem pois elas deixam cartas falando os motivos, a atitude sua foi a mais correta, primeiro deixar seu filho tentar resolver, caso não conseguisse você agiria, reforça a auto estima e a confiança dele em você, assim ele sabe que não precisa esconder nada e pode sempre contar com sua ajuda, e como vc faz é bom sempre estar atento a qualquer mudança no comportamento, torço pra que tenha tudo se resolvido e nunca mais se repita, abraço.

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  2. Qdo a gente morava no Rio e meus meninos estavam em escola particular (caríssima) eu sofria muito, não que eles realmente apanhassem, nunca chegaram com hemoatomas ou arranhões mas a cultura é de valorização dos bad boys, os meninos que sacaneiam os outros, humilham, fazem piadinhas e colocam o pé na frente pro outro tropeçar, são os grandes heróis da escola, são valorizados por TODOS (outros alunos, professores, etc.). Isso acabava comigo, eu vivia na escola reclamando mas depois percebi que é uma questão cultural muito forte, se meu filho não estava realmente apanhando então a escola não entendia do que eu estava reclamando. Aqui em Vancouver eu achei o PARAÏSO, a cultura é totalmente diferente, ser gentil, ajudar, compreender a dificuldade do outro e elogiar os amigos por suas conquistas faz parte da cultura. É TÃO diferente o que eu vivi no Rio e vivo aqui em Vancouver... Pra mim esse foi o maior ganho que eu tive com a imigração, além da liberdade de andar nas ruas sem medo da violência.
    bjs
    Marcia

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  3. Aqui acontece muito bullying nas escolas, mas acho que os funcionários sao muito mais atentos. Alem disso, existem campanhas em todo lugar a respeito. De qualquer forma, não da pra ficar só esperando o pessoal da escola perceber, porque as vezes é complicado. Quem tem criança tem que estar sempre muito atento a qualquer mudança de comportamento.
    Eu sofri muito bullying na escola e a proteção era zero!!! Não quero que meus filhos passem pelos pesadelos pelos quais eu passei.

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  4. Ai que doh!!! Eu sofri muito e por muitos anos, entao eh soh falar nisso e fico toda arrepiada. Meio maior medo em voltar pros States eh isso, bullying. Aqui tem muito tbem, mas as escolas todas sao contra e tomam muita prevencao contra isso (nao quer dizer que nao aconteca).

    bjs

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  5. Oi Mari! Eu fiquei impressionada com o seu relato e me lembrei de quando meus filhos tinham o mesmo problema, lá no Brasil. O primário foi um inferno para eles. É interessante ver as reações de cada família. Você não sugeriu que seu filho revidasse. Parabéns por isso! Eu também compartilho da política de não-violência. No entanto, eu sempre tive que intervir, em defesa dos meus filhos, porque esta era a cultura das escolhas em que estudavam. Alías, uma vez uma "pedagoga" me disse que eles precisavam aprender a se defender, no braço mesmo. Fico feliz que esse pesadelo tenha terminado para o seu filhote.
    Abraços a você e a família! Márcia

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Viagem com a escola

Quando eu era criança, la na Vila Aurora, os nossos passeios de escola eram ate o Horto Florestal... talvez parque do Ibirapuera na formatur...