Jan 29, 2010

Bullying

Infelizmente bullying é uma realidade e talvez esteja presente em todos os cantos do planeta. No Brasil é muito comum, assim como nos EUA e aqui no Canadá. E é preciso ficar muito atento porque as vezes as coisas começam de bobeira e quando vc vê já estão maiores do que a criança pode suportar.

O Eduardo fica na escola das 8:45 AM até as 3:20 PM, então ele tem dois pequenos intervalos chamados de snacks, um antes e outro após o almoço. Eu sempre mando o almoço e para os snacks eu mando alguma coisinha que ele goste como cookies, queijinho ou alguma fruta.


Um belo dia, conversando com o Edu eu descobri que os cookies que eu mando para o snack dele eram divididos com os amigos. Pelo que ele me explicou quase ninguem leva nada para estes intervalos pequenos e então todo mundo vem pedir um cookie para ele.

Apesar de apreciar a gentileza do meu filho, eu fiquei meio brava porque estas coisas são caras por aqui para eu ficar alimentando a escola inteira com cookie e também porque nesta história o Edu acabava não comendo o quanto eu gostaria que ele comesse. Na reunião que tive com a professora, nós acabamos conversando sobre isso e ela disse que é expressamente proibido dividir o lanche com os amigos. Segundo a professora é muito perigoso porque existem muitos casos de alergia entre as crianças, sem contar os problemas religiosos onde muitas crianças não podem comer determinados tipos de coisas.


Após esta conversa com a professora eu conversei com o Edu e expliquei porque ele não deveria dividir o lanche dele com ninguem e disse que ele poderia simplesmente dizer não. Neste momento os nossos problemas aumentaram, rs.


Pouco tempo depois disso o Edu começou a reclamar de uma coleguinha que não o deixava pegar livros na biblioteca da escola. Por 2 semanas ele chegou em casa chateado porque não conseguiu pegar nenhum livro e dizia que a menina ficava andando atrás dele e tirando os livros da mão dele. Então, lá fui eu falar com a professora sobre os livros e a partir da semana seguinte o problema dos livros foi resolvido, mas outros problemas apareceram, rs.


Eu percebi que o Edu não comia mais os snacks que eu mandava e deixava-os para comer em casa. Um dia ele me pediu pra não mandar mais snack porque ele não queria mais comer no intervalo. Foi dificil tirar alguma coisa dele mas um dia ele me contou que a menina, a mesma da biblioteca, ficava ameaçando contar para a professora se ele não desse snack para ela.

O Edu é um menino super meigo e carinhoso, mas tem um senso de justiça muito grande. Como ele achava injusto ter que dar o lanchinho que ele tanto gostava para uma menina de quem ele não gosta, ele resolveu não levar mais o lanche e come-lo em casa. Foi muito bem pensado, mas não resolveu o problema dele porque ele continuou com medo da menina e se privando de algo que gosta. Esta história durou até as ferias de dezembro. Eu tentando arrancar informações; ele tentando se livrar da menina.



Agora em janeiro eu comecei convence-lo a levar para a escola o que ele quisesse e para não se preocupar com a menina. Tive longas conversas com ele, explicando que os adultos da escola estão ali para protege-lo (espero) e que ele não precisa ter medo porque a menina não vai fazer nada contra ele. Também disse que sempre que ele quiser, ele pode procurar um funcionário da escola para conversar ou falar comigo e com o papai, etc etc etc.


Então, resolvi mudar um pouco o lanchinho dele; comecei mandar queijinho porque parece que a menina gosta mesmo é do cookie de chocolate (e quem não gosta, né?). Mas segunda-feira, quando saiu da escola, ele estava chateado porque a menina disse que ele tinha que trazer um monte de lanchinhos para ela porque senão ela contaria para a professora.

(a sensação que eu tenho é que a menina fica brava quando ele não leva os cookies e então, em represalia, ela o ameaça de alguma forma. Primeiro foi na biblioteca e depois com intimidação mesmo porque ela é maior que ele e percebeu que ele fica com medo.)

Nós já estávamos chegando em casa e ele me contando estas histórias, eu dizendo que ia falar com a professora e de repente... me deu "um cinco minutos", eu fiz um retorno no meio da rua onde estava e voltei pra escola.


Imaginem a mãe do Eduardo chegando na escola 15 minutos depois de todo mundo ter ido embora com três crianças a tira-colo, rs. A secretária ficou me olhando atônita quando entrei na sala dela e disse que precisava de ajuda para resolver um problema que o Eduardou (como eles dizem) estava tendo. Contei o que vinha acontecendo e em seguida falei para o Edu explicar pra ela.


Nesta parte foi ótimo porque ele conversou tranquilamente com ela, explicando o que vinha acontecendo e ainda descreveu a menina, rs (tudo em inglês, é claro). Então a secretária chamou a professora e nós novamente explicamos a situação.


A professora ficou assustada porque ela disse que já tinha conversado com a menina naquele problema da biblioteca e que não tinha percebido mais nada. E então conversando com o Edu nós descobrimos que a menina age sempre que o pega sozinho no parque. Não sei dizer se ela é agressiva, e acho que ela nem ameaça bater nele, mas o fato dela ser maior que ele (ela é do grade 2) e ele não dominar totalmente a lingua faz com que o Eduardo fique com medo dela.


A professora já conversou com a menina e por enquanto ele está levando os cookies e ela não se aproximou. Espero que este problema esteja resolvido mesmo. Eu adoro a escola e não gosto de ficar reclamando das coisas, mas nestes casos nós temos que estar sempre atentos. Muitas vezes a criança não conta tudo o que está acontecendo, e nem é por medo, mas porque acha que pode resolver a situaçao sozinha. O Edu estava tentando resolver tudo do jeito dele e se nós não tivéssemos percebido o problema poderia ter se tornado muito maior.

E eu fui descobrindo estas coisas meio que sem querer; em uma frase que ele soltou um dia. Pra sorte dele, foi bem no começo e esta situação não chegou a interferir na vida dele, mas eu imagino o quanto a hora do snack não era estressante para ele e como ele devia ficar fugindo da menina no parque.


Eu já sofri muitas ameaças na escola. Meninas repetentes grandalhonas que ficavam perseguindo as menores. Mas naquela época não se tinha a menor ideia da existência de bullying e muitas vezes a vítima levava a culpa.

Me lembro de uma menina chamada Catia que devia ser uns 4 ou 5 anos mais velha que eu e que vivia me ameaçando. Ela ficava me provocando, ameaçando me "pegar" na saída, um verdadeiro terrorismo. Ela achava que eu e minha amiga nos encontrávamos para falar mal dela ou rir dela, sei lá. Eu morria de medo e não contava pra ninguem na escola. E minha mãe sempre me falava: "fica longe dela que ela não vai te fazer nada". Mas como ficar longe se estudavamos na mesma sala e ela estava sempre por perto me olhando? Graças a deus ela foi reprovada "mais um vez" e eu me livrei daqueles olhos verdes apavorantes, mas jamais vou me esquecer daquela menina.

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Esta música foi baseada na historia de Jeremy Wade Delle que em 1990 cometeu suicídio em na sala de aula, em frente aos seus amigos e professora de inglês, como "protesto" pelas agressões que sofria


PS: alguns links interessants sobre o assunto:

Bullying - Wikipedia
PREVNet Canadá

Safe Canada
Bullying Prevention in Schools
Cyberbullying Canada
Bullying org

PS2: Acho muito importante dizer que só colocar a culpa na escola não é correto. Eles têm que ficar atentos sim, mas nem sempre é facil detectar estas coisas no início. No caso do Eduardo, não havia nenhum tipo de violência física e ele não reclamava de nada. Imagino que todo mundo o via conversando com a menina e não imaginava que naquele momento ela o estaria ameaçando.
 
Por outro lado, agora todo mundo sabe que eles NÃO são amigos. Logo eu espero que a escola proteja meu filho e não deixe que ela se aproxime mais dele; pelo menos não deixem os dois sozinhos.

7 comments:

  1. Isso é realmente horrível e pode marcar a crianca/adolescente para a vida inteira. Pode também fazer com que a crianca perca o interesse pelos estudos, entre coisas piores.
    Muito triste o caso desse estudante que se matou em protesto, mas deve ter sido horrível pra ele.
    Vocë fez bem em cortar o mal pela raiz, espero que essa menina gulosa e metida saia de vez de perto do seu filho.
    Também acho que tem no mundo todo e em muitos lugares: escola, trabalho...

    Beijo

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  2. Ótimo post! Isso é bastante sério e nós, como mães devemos ficar atentas pois a parte mais difícil de tudo isso é descobrir que algo está acontecendo com seu filho pois eles não falam mesmo!
    Bjo

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  3. Lena,

    Aqui na escola do fiote,se tivesse acontecido so as primeiras coisas q vc descreveu,as maes nem falam com a professoara, vao direto na mae da crianca que ta praticando a violencia, seja verbal, fisica ou emocional. As vezes as professoras ate acham que algumas maes sao exageradas de mais rsr Mas quem acha bom ver filho sofrendo?
    Eu desenvolvi um ritual com o fiote, ai todo dia antes de dormi, ele me conta tudo q aconteceu na escola, inclusive quando ele comete erros. Antes eu tinha o costume de perguntar no caminho pra casa, ou logo q chegava em casa, ai ele nao falava nada. Mas antes de fazermos a oracao pra dormir, ele comecava a falar. Foi ai, q percebi, q tinha q ser no tempo dele. Tem sido muito bom esse tempo q conversamos sobre o dia na escola. Algumas vezes eu peco pra ele desenhar.
    Aqui tambem,as criancas sao instruidas a nao compartilharem o lanche e as supervisoras de lanche ficam super atentas e nao permitem.
    Precisamos mesmo ficar atentos principalmente no comeco quando nossos filhos nao dominam 100% o ingles.
    Espero q o Edu agora fiquem tranquilo e possa comer seu lanchinho tranquilo.


    Abracao, Neuzinha

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  4. Eu sempre me preocupei muito com bullying porque é uma coisa que muitas vezes passa desapercebido por nós, pais e pela escola. normalmente as coisas são detectadas quando o problema já está muito sério.
    Eu sempre fui muito medrosa para varias coisas e já sofri alguns tipos de "assédio" que nunca foram serios ou levados adiante, mas eu também nunca pedi ajuda para ninguem e acabei resolvendo sozinha. Então eu sei bem como as crianças/ adolescentes tentam resolver as coisas e espero passar confiança para que meus filhos saibam que não precisam resolver tudo sozinhos e que podem sempre pedir ajuda a mim ou ao Sergio.

    Esta ideia da conversa antes de dormir pode ser uma boa. Talvez o tempo do Edu seja outro, mas de qualquer forma vou tentar descobrir quel o melhor horario para que ele me conte as coisas e eu possa sempre estar atenta ao que esta acontecendo.

    bjs

    Mari

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  5. Oi Mari,

    muito bom o seu post. Eh preciso estar atenta mesmo. Estudei no Brasil ate a 8 serie do ginasio e tb sofri com bullying. So que naquele tempo a palavra "bullying" nem existia no vocabulario da escola. Acho que mesmo que se as professoras percebessem alguma coisa, nao faziam nada. E eu tb nao contava para ninguem, por medo de piorar a situacao para mim.

    Como professora eu vejo as mil e uma resources disponiveis na escola para combater o bullying. Mas mesmo assim acontece.
    Na minha escola, falamos ate dos "bystanders"- que sao aquelas pessoas que veem o bullying acontecer mas nao fazem nada. E que nao fazer nada é um tipo de bullying.

    Umas das coisas que fazemos é "role-play" (encenar) para saber o que dizer e o que fazer quando vc se encontrar numa situação de bullying.

    Eu acho que isso ajuda as criancas a criar coragem e enfrentar a situacao melhor.

    Sobre as vacinas, na Region of Peel, todas as criancas matriculadas na escola tem que ser vacinadas ou nao podem frequentar a escola.

    A 15 anos atras, quando eu estava no High School, a escola inteira foi vacinada (acho que de measles) em 3 doses. Quem nao apareceu para a vacina, foi suspenso. Nao havia excessao com desculpas de "personal belief" ou "religiao".

    E na minha escola primaria tambem aconteceu o mesmo. A escola informou a familia que nao tinha o record da crianca ser vacinada, quando passou do prazo, e a escola ainda nao tinha o record. A menina foi chamada na diretoria (logo cedo) e a secretaria pediu, volte para a sua classe e pegue suas coisas. Vamos chamar sua mae para vir te buscar porque vc esta suspensa.

    A menina era vacinada, mas a escola nao tinha o record.

    Uma outra familia, a criancas perderam mais de 2 meses de aula, ate os pais levarem as filhas no medico para serem vacinadas.

    O dono da casa que vc mora, so vai conseguir que os filhos dele vao para a escola, se em Toronto a regra for diferente. Espero que nao.

    Ou ele nao sabe dessa regra e vai se surpreender.

    beijos

    Paula

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  6. Paula, a informação que recebemos, de uma profissional da área médica na região de Peel mesmo, é que apesar de ser obrigatória a vacinação, as escolas acabam não cumprindo a lei, e acabam aceitando as crianças mesmo sem vacina. Algo como o jeitinho brasileiro.
    Mas seria bom tirar isso a limpo mesmo, porque é algo realmente importante.

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  7. Que coisa mais desagradável. Parabéns pro seu menino que soube lidar bem com a coisa tentando resolver da melhor maneira possível. Tomara que tenha acabado.

    E a vida segue...

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Viagem com a escola

Quando eu era criança, la na Vila Aurora, os nossos passeios de escola eram ate o Horto Florestal... talvez parque do Ibirapuera na formatur...