Feb 23, 2010

Sorte que eu sou Latina

Há mais ou menos um mês e meio eu iniciei minhas aulas de inglês em um novo Linc. Agora ao invés de aulas exclusivamente de gramática, eu tenho tido muitas oportunidades de conversar com o professor e com meus colegas de classe.


Neste curso eu me propus a perder a timidez e tentar me expor o máximo possível, e tem dado certo: tão certo que discuto com o professor quase diariamente porque geralmente discordamos um com o outro. Como ele também percebeu que eu sempre discordo das idéias dele, ele fica me provocando a aula inteira com um risinho sarcástico. E já deve ter percebido também que eu não preciso de muita provocação pra dar a minha opinião, rs.


Ao mesmo tempo, eu tenho tentado entrar em contato com a maioria dos colegas e assim, aprender mais sobre outras culturas. Nem sempre é facil, mas tem sido muito interessante. O que me choca geralmente é perceber que a maioria deles vive em guetos dos seus países de origem. É bem verdade que nós praticamente só conhecemos brasileiros por aqui e também é verdade que não é tão facil fazer amizade com os imigrantes, mas pelo menos meus filhos não estão presos somente a brasileiros. Tanto na escola do Edu como no Linc, as crianças falam inglês o tempo todo e mesmo o Edu que tem uma amiguinha brasileira, só fala com ela em inglês.

Para meu espanto, a maioria dos meus colegas têm filhos pequenos e apesar de ter vaga no Linc, todos eles preferem deixar os filhos em casa com alguem. Eu, ao contrário, faço questão de levar as meninas mesmo quando o Sergio está em casa. Tem sido muito bom para elas e com certeza fará muita diferença quando elas entrarem na escola já com uma certa fluência na lingua. 

Outra coisa que me espanta muito é ver as pessoas sempre esperando o momento em que vão retornar aos seus países de origem. Eu amo o Brasil, sinto saudades, mas tenho consciência de que as coisas por lá não vão mudar a ponto de eu querer voltar. Acho que neste sentido eu sou muito objetiva e não fico alimentando esperanças vãs. Só que no caso dos meus colegas a situação é ainda pior. De uma maneira geral o Brasil até que não é tão ruim quando comparado com outros lugares por aí, rs.

É muito triste ver que as pessoas estão aqui sem querer estar; a maioria deles não gosta do Canadá e esta aqui meio que obrigado. Vivem tentando levar a vida que levavam antes e querendo que o Canadá se adapte a eles e não o contrário.

Eu me lembro dos meus avós, que apesar de sentirem saudades de seus países de origem nunca se fecharam em colônias isoladas no Brasil. E amavam a terrinha verde-amarela como se tivessem nascido nela. Minha tia que foi para o Brasil aos 4 anos até se ofende se alguem diz que ela é portuguesa. "Eu nasci em Portugal", ela diz, "mas eu sou brasileira!"


A tese do meu professor é bem diferente desta. Segundo ele, nós devemos manter a nossa cultura para os nossos filhos porque no futuro eles não serão aceitos como canadenses e sofrerão preconceito. Posso estar muito enganada, mas acho que se nossos filhos se adaptarem à cultura canadense eles não terão porque sofrer preconceito. Não é possível que os jovens canadenses passem suas vidas apontando os imigrantes para exclui-los. Na verdade, eu sinto que os imigrantes sim é que têm medo que seus filhos se tornem canadenses e se esqueçam dos seus países. No fundo eu tenho a sensação de que meu professor e outros colegas recem chegados querem passar para seus filhos aquele sentimento nacionalista: eu nasci em ****** e lá é o meu país.
De verdade eu acho isso uma grande bobagem. Eu quero que meus filhos falem portugues porque vai ser bom para eles, para a cultura deles, para manterem contato com a familia no Brasil. Eu quero que meus filhos conheçam as coisas do Brasil porque é legal, porque eu acho que vai enriquece-los em conhecimento, porque faz parte da história deles e vai ajuda-los a entender muitas coisas que eles vivem aqui em casa, mas sem esta obrigação de manter a cultura brasileira intacta, sem a obrigação de se casar com descendentes da terrinha.


Eu quero que eles conheçam as coisas do Brasil porque eu gosto delas, porque acho que podem ser legais pra eles, porque vão trazer cultura e conhecimento, mas eles têm todo o direito de preferir um jogo de hockey a uma final de copa do mundo, ou trocar meu arroz com feijão pela pizza hut, ou preferir o Neil Young ao Zezé de Camargo e Luciano (essa eu assino embaixo, rs).


E se um dia, o Edu chegar aqui em casa com uma esa (chinesa, paquistanesa, polonesa, singalesa) ou ana (indiana, mexicana, ucraniana, sul africana) qualquer, ela vai encontrar sempre as portas abertas. Mesmo se ela for de Camarões, será bem aceita (mas esta é outra história que eu conto no próximo post, rs).

11 comments:

  1. Muito legal seu post! A idéia é essa mesmo. A ultima coisa que devemos procurar é viver nestes guetos. Nos estamos procurando mudar de país, não somente de endereço.
    As fronteiras são coisas imaginárias criadas pelos governos, são definidas em mapas que, como o proprio nome diz, são mapas politicos. Todos nos nascemos no mundo e somos seres humanos e pronto. Se todos as nações falassem a mesma lingua, com certeza teríamos um mundo com menos guerras!
    Um grande abraco!

    ReplyDelete
  2. Marilena como sempre muito sensata...
    Não tenho ainda o previlégio de ter crianças, mas por enquanto penso exatamente como vc...
    Se Deus quiser os meus nascerão em terras canadenses, e serão "branadians"!!!!

    ReplyDelete
  3. Adorei o texto! Concordo plenamente!
    Abraços e boa sorte sempre! ;-)

    ReplyDelete
  4. Muito legal seu post. Acho que cada um tem que encontrar seu tom onde está vivendo e viver da melhor forma possível. Isso de ficar vivendo num lugar e com o pé em outro, pé näo, os sonhos, nem sempre dá certo, aqui também vejo disso, e o maior problema é que o lugar para onde sonham voltar nem é mais o lugar de onde saíram, e muitos após um tempo só lembram das coisas boas, esquecem o porque foram embora em busca de melhor vida, esquecem o que tem de negativo, passam a sonhar com algo que não existe.
    Vejo meninas aqui que falam do Brasil de uma forma que eu não consigo enxergar, e percebo que é porque realmente não lembram mais de muitas coisas, não tem mais contato, e como a pessoa sonha tanto em voltar pra um país e simplesmente não sabe nada da atualidade de lá? Estranho pra mim. Mas tem também os inconformados e reclamões, reclamam de onde estão porque antes reclamavam também de onde estavam.
    Enfim... complicado.
    Manda ver com o outro post sobre Camarões, tô curiosa.
    Beijo

    ReplyDelete
  5. Muito legal seu post. Acho que cada um tem que encontrar seu tom onde está vivendo e viver da melhor forma possível. Isso de ficar vivendo num lugar e com o pé em outro, pé näo, os sonhos, nem sempre dá certo, aqui também vejo disso, e o maior problema é que o lugar para onde sonham voltar nem é mais o lugar de onde saíram, e muitos após um tempo só lembram das coisas boas, esquecem o porque foram embora em busca de melhor vida, esquecem o que tem de negativo, passam a sonhar com algo que não existe.
    Vejo meninas aqui que falam do Brasil de uma forma que eu não consigo enxergar, e percebo que é porque realmente não lembram mais de muitas coisas, não tem mais contato, e como a pessoa sonha tanto em voltar pra um país e simplesmente não sabe nada da atualidade de lá? Estranho pra mim. Mas tem também os inconformados e reclamões, reclamam de onde estão porque antes reclamavam também de onde estavam.
    Enfim... complicado.
    Manda ver com o outro post sobre Camarões, tô curiosa.
    Beijo

    ReplyDelete
  6. Concordo com você palava por palavra. Ao chegarmos no Canadá queremos nos integrar totalmente à cultura canadense, mantendo logicamente viva nossa cultura brasileira. Vai ser o máximo termos duas culturas, principalmente pras meninas.

    E a vida segue...

    ReplyDelete
  7. Lena,

    Esse tema q vc abordou é muito interessante,confesso que já tinha pensado em algumas coisas parecidas pra focar no meu mestrado ou doutorado.
    Convivendo com alguns canadenses mais velhos aqui em North Van,eles deixam bem claro que se sentem mal perto de imigrantes que não se esfoçam pra aprender inglês ou françês; que vivem em guetos e simplismente sugam o q o Canada oferece pra eles. A semana passada, um casal canadense compartilhou conosco q foram oferecer ajuda pra uns vizinhos chineses treinarem o inglês, daí as "figuras" dizeram: "não precisamos do inglês; estamos aqui só pra usufruir do sistema de saúde". Pode? meus amigos canadenses ficaram arrasados e com raiva. Dei toda razão pra eles, eu também ficaria com raiva.
    Sobre os nossos filhos, creio q eles terão excelentes oportunidades e poderão fazer suas escolhas. Tenho conhecido filhos de imigrantes q vieram com menos de 10 anos de idade pra cá,casaram aqui, tiveram filhos e nunca reclamaram de preconceito.Absorveram e introjetarm a cultura canadense e ainda preservam a cultura do país onde nasceram, sem nenhum stress.Aprenderam a conviver com duas culturas diferentes de forma bem elaborada e sem stress.
    Também,conheci brasileiros que vieram pra cá pra oferecer algo melhor pros filhos e quando estes completaram 18/19 anos,voltaram pro Brasil e os pais estão aqui.

    ReplyDelete
  8. Oi Lena, ia até dar os exemplos que a Neuzinha deu. Creio que a cultura canadense vem pros filhos querendo ou não e a brasuca também, eles vão escolher o que querem pra vida deles, minha filha não gosta de feijão, eu não insisto com ela, pq aqui o povo não come mesmo. Outro dia conversei num parque com uma canadense e ela reclamou dos imigrantes que vem pra cá e não aprendem ingles e com razão, nós é que temos que nos adaptar a cultura canadense e não o contrario.

    ReplyDelete
  9. Os imigrantes escolhem o país para onde desejam se mudar, depois surgem com essa atitude mascarada de preconceito, não querem se adaptar, querem que uma nação inteira se molde às suas preferencias... imaginem só os filhos que tipo de orientação eles recebem...
    Se abrir para o novo preservando o que aprendemos ao longo de nossas caminhadas, nossa origem, parece ser um caminho bem bacana...

    ReplyDelete
  10. Olha eu estava para fazer um post parecido com esse lah no blog e fiquei adiando, ia ser mais focado na comunidade brasileira.

    bjs

    ReplyDelete
  11. Oi,

    Já li todo o seu blog mas é a 1a vez que posto aqui.

    Concordo com tudo que você colocou. Temos amigos canadenses e estávamos falando da história de imigração e comentei "nós que teremos que nos adaptar ao Canadá e não o contrário" e essa amiga imediatamente falou: pois é, mas a maioria dos imigrantes não pensa assim.

    E é por isso que ficam em sub-emprego, que acham que canadense é isso e aquilo - lógico, chega no país dos outros e não faz o mínimo esforço pra se adaptar.

    Eu morei em Niagara Falls do lado americano quando era adolescente e em integrei 100% aos costumes e à cultura. O que eu mais ouvia era "I can't believe you are not from here" - nunca deixei de ser brasileira, mas estar adaptada ao país que te acolhe faz a sua estada, temporária ou permanente, ser muito melhor.

    E com relação aos filhos, manter a lingua materna é sim importante mas eles têm que estar integrados à cultura do novo país - se não, aí sim sofrerão preconceito a vida toda.

    Abs,

    http://dofornoparaofreezer.blogspot.com

    ReplyDelete

Viagem com a escola

Quando eu era criança, la na Vila Aurora, os nossos passeios de escola eram ate o Horto Florestal... talvez parque do Ibirapuera na formatur...