É muito dificil educar um filho para o mundo: é muito mais facil tentar prende-los embaixo das nossas saias e "protege-los" de todos os perigos. Graças a deus eu posso dizer que meus pais me criaram para o mundo. Apesar de muito tímida eu tive muitas oportunidades na minha infância: oportunidades de descobrir lugares e pessoas diferentes, viajar sozinha, sair com pessoas que não eram da família, dormir na casa de amigos e primos, enfim, viver muitas experiências enriquecedoras.
Não sei se por eu ser bem mais nova meus pais se sentiam mais seguros em me deixar ir, mas o fato é que eles deixaram e isso me fortaleceu muito. Mas eu não era uma menina largada no mundo, vivendo em uma porteira aberta sem controle nenhum. Meus pais sempre deram a corda mas ficaram com a outra ponta e estavam sempre atentos para me segurar quando percebiam que eu estava em terreno perigoso. Meus pais me deram toda a base de tudo o que sou hoje.
Com meus filhos eu tento copiar o modelo deles: me vejo quase todos os dias repetindo as mesmas frases que ouvi a vida inteira, as mesmas brincadeiras, as mesmas histórias. Só que eu me dei conta há bem pouco tempo de que eu estava cometendo uma falha lamentável na educação dos meus filhos. Uma falha imperdoável que poderia colocar todo o meu trabalho a perder no futuro, exatamente naquele momento em que eu terei que soltar a outra ponta da corda: eu "pequei" na educação religiosa deles.
Como não sigo nenhuma religião eu acreditei que eles não precisariam seguir nenhuma também e que bastaria apresentar a biblia a eles e falar um pouquinho de Jesus e de deus. Mas hoje tenho certeza de que eu estava enganada!!! As crianças precisam muito de formação religiosa, mais até que os adultos. Como em tudo na vida, a base é o mais importante e uma criança sem base religiosa nenhuma é alvo fácil para a alienação e o fanatismo.
Eu frequentei a igreja católica praticamente a minha infância e juventude inteiras. Mas ao contrário da maioria, eu não ia á missa pra bater cartão, eu participava da missa: fazia as leituras ou os comentários, ficava no altar com o padre (e as vezes até bebia o vinho, hummmm), e também participava de outros grupos da igreja, me envolvia em varias atividades, varias discussões... Eu sempre fui muito questionadora e tive a sorte de encontrar padres e pessoas maravilhosas que sempre me ajudaram em minhas dúvidas.
Além disso, meus pais também não eram católicos de nome: meu pai foi coroinha da igreja em um tempo em que a missa era rezada em latin, depois fez parte por muitos anos da Congregação de Marianos, minha mãe foi filha de Maria e ate hoje participam de muitos grupos da paróquia deles.
O que eu percebi foi que apesar de ter me afastado da igreja católica em várias ocasiões, eu tenho uma formação religiosa consistente: uma base sólida que não se deixa levar por qualquer onda! Ao contrário: sou muito difícil de convencer!!! E olha que já passei por muitas provações, rs.
Me lembro que na minha adolescência pipocavam por toda a cidade de São Paulo varios grupos, que se diziam não religiosos, e que faziam convites para passeios, encontros, almoços para jovens onde se discutiria a biblia sem vinculo com nenhuma religião. Estas pessoas super simpáticas e agradáveis, te constrangiam em pontos de ônibus, dentro do campus da USP e as vezes até mesmo na sala de aula da faculdade com um discursinho manso, gentil e um convite para um evento super "legal" onde vc conheceria varias pessoas interessantes. Em uma destas conversas eu acabei dando meu telefone para me livrar da menina sem ser mal educada e me arrependi profundamente: a chata me ligava todos os dias, a qualquer horário e não tinha o menor constrangimento. Até que um dia, em pleno almoço de dia das mães, ela ficou me ligando a manhã inteira para me convidar para um almoço X. Mesmo tendo dito que não iria, que iria almoçar com minha mãe, ela voltou a ligar mais duas ou três vezes e então eu fui obrigada a descer do salto e dizer que não estava interessada, que já tinha religião, já tinha amigos e estava muito feliz.
Depois desta, nunca mais dei meu telefone, mas nem por isso me livrei totalmente dos convites, das conversinhas, daquele papinho manjado!!! Infelizmente uma grande amiga minha foi a algumas reuniões e quase entrou no poço sem fundo do fanatismo e da alienação. Naquela época eu não consegui entender direito a diferença entre mim e ela: hoje, eu acho que sei. Eu tinha muito claro pra mim o papel da religião na minha vida. Eu tinha varias dúvidas, é claro, mas não eram dúvidas que poderiam ser respondidas em outra denominação religiosa: o dito mistério da fé não tem resposta em lugar nenhum. Foi neste ponto que eu entrei de cabeça na ciência. Mas não foi um padre ou um pastor que foram me ensinar ciência: ciência se aprende em livros de ciência!!!
Hoje Deus e a ciência conseguem andar lado a lado na minha mente sem se contradizerem e eu tenho isso muito bem resolvido pra mim. Mas neste momento, em que a ciência na vida dos meus filhos é limitada pelo entendimento deles, eu percebi que tenho que resolver o problema da religião. Eu tenho que dar a base que eles precisam ter para não seram iludidos, comprados, alienados no futuro. Quando eles crescerem, eles terão toda a chance de escolher, assim como eu tive, mas que escolham com conhecimento de causa, que escolham sabendo diferenciar "o joio do trigo".
Eu vou me sentir uma fracassada se um dia meus filhos cairem nas teias do fanatismo por falta de conhecimento ou por abandono da minha parte. Por isso, eu escolhi para meus filhos a religião católica. Se eles não quiserem acreditar na virgindade de Maria, se não quiserem acreditar em Santos, ou em outras coisas tão criticadas por aí, tudo bem!!! Mas eu quero que eles conheçam esta religião que é tão linda e tão confortadora. Eu sempre me sinto em casa em qualquer igreja católica em qualquer lugar do mundo: as missas são sempre iguais, os canticos, os ritos, o sermão do padre sempre muito semelhante.
Nunca vi um padre criticando outras igrejas, julgando os fieis, cobrando pelo dízimo, constrangendo quem quer que seja. As portas da igreja católica estão sempre abertas pra vc ir e vir quando quiser e quem vai julgar o seu comportamento é vc mesmo, e deus.
Com 18 anos eu comecei a fazer um curso nas Casas André Luiz. Era um curso de 5 anos mas só consegui fazer 3, porque percebi que ali não tinham as respostas que eu procurava. Um dia, cheguei em casa depois de uma aula e estava assistindo a novela com o meu pai e ele me disse: "sabe Lena, não adianta mudar de religião, porque as respostas estão dentro de vc mesma" (transcrição livre).
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Voce esta certissima, para escolher e preciso primeiro conhecer. E triste tantos fanaticos que se acham melhor do que os outros, fico triste pois perdem o que julgo mais importante que e respeito e o amor ao proximo.
ReplyDeleteFaca a sua parte agora enquanto sao criancas porque adolescente.... rsrs
bjs
Parabéns pelo post, muito bom!! Tbm acho que estou pecando neste ponto com meu filho, pois devo tudo que sou, meus valores e caráter à minha forte base religiosa da infância e adolescência! Vou pensar mais no assunto! Valeu!!bjoss
ReplyDeleteBom, vamos a minha experiencia.
ReplyDeleteA minha família por parte de pai era extremamente praticante. Numa época em que o catolicismo dominava completamente o interior de São Paulo, eles eram protestantes, não sei exatamente porque razões. Mas vários dos meus antepassados poram pastores e meu bisavo foi o fundador da igreja em Jaú. Quando eu tinha uns cinco anos o meu pai (minha avó já era falecida) abandonou a igreja. Em virtude disso eu não tive essa experiencia de ir na igreja na infancia (e para ser franco, nem depois), mas com certeza absoluta fui criado sob o pensamento protestante. O que por sinal, me deu várias vantagens na vida.
Na faculdade eu tive o primeiro contato com os fanáticos. Mas naquele tempo, eles eram católicos. Eu ficava protegido do assédio por ser "infiel", mas não perdia oportunidade para alfineta-los. Eram pessoas perigosas, acabaram com a vida de muitos colegas meus, mas paciencia, eu não podia fazer nada.
Quando eu fui me casar, na católica, já que a Lena era praticante e eu não, foi que eu percebi que os ensinamentos que eu tinha em casa não eram exatamente os que eram praticados pela igreja da minha família. Acabei, sendo "excomungado", jogaram meu certificado de batismo no lixo, e para ser franco, fiquei até contente em não ser mais batizado.
Nesses últimos dias andei pelos sites das igrejas e vi que realmente as diferenças entre a religião do meu pai e a igreja atual são intransponíveis. Pode parecer arrogante, mas eu acho que o que mudou foi a igreja protestante, eu acho que se o Lutero e o Calvino vissem a igreja hoje, fariam outra reforma!!!
Enquanto nesses quarenta anos a igreja católica vem se arejando, a historicamente vibrante e liberal igreja protestante vem radicalizando. Talvez isso tenha sido uma estratégia de marketing, já que as igrejas protestantes tradicionais passaram nesses anos a ter uma acirrada "concorrencia" das "novas" igrejas, e acabou se adaptando a teologia (se é que pode ser chamado de teologia) delas.
Daqui há pouco vão começar a pregar que é o sol que gira em torno da terra. Mas isso é um outro assunto.
Por isso, que apesar de sermos um casal com algumas diferenças religiosas importantes, não me opus as crianças estarem na escola católica. Por um único motivo, a minha religião simplesmente acabou.
Seu pai mandou muito bem. Falou tudo. Que pessoa sábia.
ReplyDeleteE a vida segue...
A radicalizacao da igreja protestante no Brasil é intensa e me cheira a seitas.
ReplyDeleteComo disse meu cunhado: se os protestantes brasileiros vissem os protestantes alemaes, eles nao se chamariam mais de protestantes.
Mesmo sem religiao, eu tento passar religiosidade à minha filha. Interessante esse tema.
bj
Algumas poucas religiões no Brasil conseguem manter aquela ideia inicial do protestantismo, infelizmente. Mas eu acho que assim como em outras áreas, as religiõoes seguem a demanda. Até a igreja católica teve uma recaída com a revolução carismática. Eu gostava muito mais dos padres que seguiam a teologia da libertação, mas enfim... Acho que as pessoas precisam desta coisa mais "mistica", precisam de um deus mais severo... Jesus é bonzinho e compreensivo demais para conseguir segurar os instintos do seu rebanho, rs. É uma pena.
ReplyDeleteNão sei como esta a igreja católica no Brasil, mas aqui no Canadá ela tem me agradado muito. Eu que não sigo mais, adoro as missas e principalmente os sermões dos padres.
Acho que religiao eh uma coisa e religiosidade eh outra, a religiosidade estah dentro de si e religiao fora. Sou catolica de nome, estudei em escola catolica ate a 8a serie, mas nao frequento a igreja. Ja fui visitei igrejas, para ter paz de espirito e concordo qdo vc fala que vc se sente em casa dentro de uma igreja, eh o mesmo para mim, mas acho a igreja catolica e outras igrejas e religioes hipocritas demais (minha opiniao). A Victoria entrou em escola catolica, como vc sabe nao foi nossa primeira escolha, mas acho que vai ser bom que ela aprenda os ensinamentos para ela poder decidir no futuro.
ReplyDeleteAh, aqui na Inglaterra fomos a uma missa e o padre disse para quem quisesse deixar dinheiro para deixar no nome dele ou do outro padre, achei um absurdo total, achei que doacoes eram para a igreja e nao para padres!
bjs
Eu sou muito crítica com relação a religião porque acho que sempre existe um desejo de troca por parte dos fieis. As pessoas fazem as coisas porque deus quer, para agradar a deus, para irem para o céu e não porque elas acreditam que devam fazer a coisa certa. Eu tento ser correta porque acredito que é a coisa certa a ser feita, não estou esperando nada em troca. Tambem acho que as religiões muitas vezes aumentam os preconceitos das pessoas e alimentam suas vaidades: muita gente se acha superior porque o seu deus é melhor que o deus dos outros. Muita gente acha que o seu caminho é o único caminho certo, correto e que os outros estão todos "lascados". A religião muitas vezes leva as pessoas a julgarem os outros e tentar impor suas proprias verdades. é claro que não da pra dizer que todas são assim: graças a deus. Quando encontro pessoas centradas e que gostam de uma discussao filosófica sadia, eu adoro discutir religião e sempre aprendo muitas coisas interessantes. Mas quando encontro fanáticos...
ReplyDeleteA igreja católica aqui da recibo de todas as doações. vc nao pode simplesmente colocar o dinheiro na cestinha da coleta. Todo paroquiano tem uma caixa com envelopes e no final do ano recebe uma declaração para abater no imposto de renda.